sábado, 28 de janeiro de 2012

As horas passavam ao ritmo lento de quem espera num misto de medo e ansiedade.O azul das cortinas da "zona  dos aerossol" e o branco da luz tornavam a minha visão complicada de se fixar na senhora do segundo compartimento que me contava a sua história, de saudade e tristeza....
Noutros cadeirões onde lado a lado se inalavam oxigénios e substâncias "desentupidoras de bronquios"tossiam rostos e gargantas e pulmões e corpos com roupas que se mexiam ao sabor dos solavancos dos espasmos pulmonares, e me pareciam  partilhar as mesmas emoções...sempre um misto de preocupação... 
Não tinha "mascarilha O2" no rosto, mas queda e serena estava uma senhora Viking...pele branquinha, levemente rosada de bochechinhas generosas,redondinha nos seus sessentas e tais de idade, de "ar"sempre agradável, num olhar por vezes brincalhão e muito sagaz...
Estávamos frente a frente eu e a senhora bonita com bochechinhas do norte da Europa, e de quando em vez partilhávamos palavras bem dispostas para contrapor ,para aliviar...as dúvidas...os receios...aquela angustia de saber quase tudo o que não se quer nunca saber, porque é mau demais para ser verdade!
Mas as situações mais ternas acontecem até nos momentos de maior preocupação, como que para desanuviar, afinal tudo é um misto, uma miscelânea de emoções, basta algum cuidado para não perder coisas maravilhosas que o Universo nos dá!
Eis que aparece de súbito  uma menina, dona de um grande dose de bom senso e energia radiosa que enquanto registava um ECG e nos contava as suas demandas desportivas, disse de modo carinhoso ..."Onde foi buscar esses olhos azuis tão lindos?"...A senhora redondinha, bonita, endireitou o corpo no cadeirão, levantou o queixo ligeiramente, olhou-me nos olhos e disse"a minha filha também tem olhos azuis" como se fossem os meus olhos os mais importantes do mundo naquele instante. Proferiu estas palavras aflitas de mimo, de bem querer...querendo dizer certamente que os meus olhos, embora descendentes dos seus são sempre mais importantes que os dela...
Senti-me outra vez menina de colo, e gosto de sentir-me assim...
Gosto do "colo" da minha mãe, do mimo desta senhora bonita de olhar sagaz e brincalhão...
Gosto do poder mágico e curativo do amor que dela jorra...

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